Responsabilidade corporativa: o que nos ensinam os grandes escândalos de 2023?

Responsabilidade corporativa: o que nos ensinam os grandes escândalos de 2023?

A história corporativa é marcada por momentos cruciais que abalaram grandes impérios empresariais. De colapsos financeiros a escândalos éticos, as crises enfrentadas por empresas renomadas são um lembrete da importância da responsabilidade corporativa e da governança sólida.

E temos acompanhado algumas histórias assim se desenrolarem em pleno 2023, quando uma fraude contábil abalou as estruturas da Americanas S.A.; a falta de transparência e negligência com clientes manchou fortemente a reputação da 123 Milhas; e, mais recentemente, o Magazine Luiza encontrou “incorreções contábeis” que obrigaram o grande varejista a reajustar seu patrimônio líquido em 830 milhões de reais.

É claro que cada caso é um caso. Mas essas grandes crises revelam um padrão claro: elas poderiam ter sido evitadas se houvesse um compromisso mais profundo com a responsabilidade e a ética empresarial.

Por isso vamos debater, neste artigo, como a negligência em aplicar práticas de compliance e governança corporativa adequadas resultaram em desastres financeiros e reputacionais desses grandes grupos. Além disso, vamos abordar qual é o custo da ausência de uma cultura de responsabilidade, não apenas para essas corporações, mas também para seus acionistas, colaboradores e stakeholders.

2023: um ano de crises nas grandes empresas

A responsabilidade corporativa sempre foi um tema muito presente em organizações empresariais de todos os níveis. Entretanto, poucas foram aquelas que conseguiram sair do discurso e aplicaram princípios éticos e sustentáveis em seus processos.

Prova disso são os casos recentes de crises em grandes empresas desencadeadas por falta de transparência, negligência com a prestação de contas e inequidade entre os sujeitos envolvidos.

Caso Americanas

Tão logo começou 2023 e este caso estourou na mídia. O anúncio de um rombo na casa dos R$ 20 bilhões em seus balanços pegou todos de surpresa e, quando comprovada a fraude, provou também a tese de que “governança”, para os executivos da Americanas, era apenas uma palavra bonita.

O motivador, é claro, foi a sanha pela obtenção do lucro a todo custo, sem considerar o futuro, nem a transparência, muito menos a equidade entre os stakeholders da empresa. E justamente essa falta de visão em longo prazo acaba prejudicando a responsabilidade corporativa.

Caso 123 Milhas

Alguns meses depois do caso acima, a gigante no ramo das viagens suspendeu os pacotes e a emissão de passagens de sua linha promocional, afetando viagens de datas flexíveis que tinham embarques previstos para o período entre setembro e dezembro de 2023.

Nesse caso, a empresa realizou um instrumento financeiro chamado derivativo, um ativo negociado cujo valor depende de outro ativo – aqui, uma oscilação no mercado que não aconteceu. O problema foi ter vendido essas passagens “derivativas” sem informar ao cliente do que se tratava, ou seja, sem informa-lo dos riscos envolvidos.

Caso Magazine Luiza

Ainda em investigação, o caso veio à tona em novembro de 2023, quando a própria varejista divulgou “incorreções contábeis”, que culminaram no reajuste de R$ 830 milhões em seu patrimônio líquido.

Isso pode até parecer pequeno perto do tamanho de seu negócio e do volume imenso de movimentações diárias; mas, para o investidor, significa que, se a empresa tem problemas com a responsabilidade corporativa do próprio negócio, o que dizer então sobre a preocupação com seus clientes, fornecedores, colaboradores e demais partes interessadas?

A importância da responsabilidade corporativa

Nesse contexto de grandes crises geradas pela irresponsabilidade empresarial, é crucial entender que isso vai além do cumprimento de regulamentos. Trata-se de um compromisso ético com todas as partes envolvidas, desde colaboradores e fornecedores até clientes e comunidades.

Afinal, temos também visto exemplos de empresas que abraçaram o tema e se tornaram agentes de mudança positiva, agregando valor à sociedade e construindo relações sólidas com todos os seus públicos.

Essas crises enfrentadas por grandes empresas são um lembrete contundente do preço da negligência em relação à responsabilidade corporativa. Além de evidenciar a necessidade urgente de fortalecer os pilares da governança, implementando práticas éticas e responsáveis em todas as esferas empresariais.

(Governança + compliance) seriedade = responsabilidade corporativa

Fortalecer a responsabilidade passa inevitavelmente pelos pilares da governança corporativa. Uma governança sólida estabelece a base para a responsabilidade corporativa, orientando as empresas na adoção de práticas éticas, transparência nos processos e tomadas de decisão responsáveis.

Os pilares da governança corporativa são compreendidos através de elementos como:

  • Transparência: informar todas as ações, como são os processos, quais as contas da empresa, quais os valores e tudo o que está relacionado à empresa e possa interessar aos seus stakeholders;
  • Equidade: tratar todos os envolvidos com a empresa da mesma maneira, com as mesmas informações e no mesmo nível de importância, desde o menor fornecedor ao maior acionista;
  • Prestação de contas e conformidade com regulamentos: estar ciente de que tudo o que é feito na empresa deve obedecer às leis do país, aos regulamentos do setor e estar devidamente documentado e fundamentado nas contas.

É importante dizer que, quando esses princípios são incorporados na cultura organizacional, a empresa se fortalece contra crises internas e externas, além de contribuir também para a maior estabilidade da sociedade.

Afinal, uma crise como as citadas acima pode gerar impactos na cadeia produtiva, o que significa desequilíbrio na arrecadação de empresas parceiras, que podem gerar desemprego e outros problemas sociais derivados.

Para evitar tal desastre como os que temos visto ao longo de 2023, no mínimo o compliance precisa estar estruturado e ser atraente para os stakeholders, de modo que possa evitar atitudes irresponsáveis, como fraudes, enganos e desinformação ao cliente.

Conclusão

A consultoria da Goose reforça a importância de implementar uma estrutura de governança sólida na sua empresa, seja ela pequena, média ou de grande porte. Isso não apenas guia as empresas na implementação de práticas de compliance, mas também as auxilia a integrar a responsabilidade corporativa em todos os níveis da organização, ou seja, em toda a cadeia produtiva, promovendo uma cultura de responsabilidade em cada elo dessa corrente.

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